quarta-feira, 9 de abril de 2014

Vamos falar sobre Adopção


Desde que o mais recente movimento pelo apoio à (in)fertilidade começou, muitos foram os blogs e outras páginas web que se juntaram de alguma forma à causa, que puseram o dedo na ferida, alertaram para este problema e pediram a quem já tenha passado por esta difícil situação que desse um passo em frente e contara a sua história.
Esta pequena multitude que pouco a pouco se levanta é uma fonte de esperança de que um dia quem viva este realidade seja melhor compreendido e tenha à sua disposição mais ajudas e menos discriminação.
Mas, no meio de muita gente compreensiva, que dá um bocadinho do seu coração e luta ao lado dos etiquetados de inférteis por uma causa que não é directamente sua, outros surgem com aquilo que eu chamo de "teorias da treta", pois são lançadas da boca para fora sem qualquer conhecimento de causa ou respeito pela situação e pelos sentimentos daqueles que nela estão envolvidos.
Hoje gostaria de falar sobre uma em especial: a adopção.


Para mim, é absolutamente incrível a quantidade de pessoas que quando ouvem falar de infertilidade, rapidamente ordenam (a maior parte nem sequer tem a sensibilidade de sugerir) os casais a adoptar e faz-me muita confusão por vários motivos:

Primeiro: que eu saiba, não é requisito da adopção ser-se infértil. Qualquer casal se pode voluntariar e, se reunir as condições necessárias (que nada têm a ver com a saúde do seu sistema reprodutor), ser escolhido para acolher uma criança que precise de um novo lar. Se estas pessoas que dizem aos outros que adoptem estivessem realmente preocupadas com as crianças que não têm família, então tomariam o problema nas suas próprias mãos e tentariam fazer parte da solução.

Segundo: a maioria das pessoas que atiram da boca para fora o tema da adopção nem sequer fazem uma pequena ideia de como funciona este processo em Portugal. Não só somos um país extremamente burocrático, o que aumenta a morosidade e custos de qualquer acção neste sentido, mas aqui são poucas as crianças realmente adoptáveis. A maioria daquelas que se encontram em instituições estão aí, não porque não tenham país, mas porque a sua família não reúne nesse momento as condições mínimas para a sua sobrevivência e educação, no entanto estas situações são (pelo menos na teoria) temporárias.

Terceiro: um casal infértil tem todo o direito de lutar por um filho biológico. Isto pode parecer egoísta ou até irracional para muita gente, mas a verdade é que só se pode compreender a vastidão deste desejo (e, nalguns casos, instinto) quando se sente na pele o que é ter algo tão natural negado. Talvez um dia aquele casal que agora dá tudo de si por uma FIV (fertilização in vitro) venha a decidir que se sente preparado para adoptar, mas isso não lhe deve ser forçado. Cada um deve chegar a essa decisão por si próprio, no momento em que sinta que reúne todas as condições necessárias para o fazer. Possivelmente, se um dia esse casal optar pela adopção, dará todo o seu amor a essa criança, mas nem todos chegam a sentir-se preparados para tal e nem todos buscam um filho biológico apenas pela meta de ter um filho, veja-se que o caminho para lá chegar também conta.

Quarto (e este é o ponto que gostaria que todos lessem mais atentamente porque creio ser o mais importante): Não se deve adoptar uma criança de ânimo leve. Não se deve adoptar uma criança por motivos egoístas. Não se deve adoptar uma criança apenas para tentar preencher um vazio que não se conseguiu preencher de outra forma. Não se deve adoptar para se ter filhos, mas sim para que a criança tenha pais. A adopção é um dos actos mais belos que existe neste mundo e acredito que também seja um dos mais gratificantes, mas ao adoptar temos que ter consciência que o estamos a fazer em primeiro lugar para dar a melhor oportunidade possível para uma vida saudável e plena a uma criança que de outra forma talvez não a tivesse. A criança tem sempre que ser a prioridade, portanto, antes de adoptar, é preciso saber se temos competências físicas, psicológicas e emocionais para enfrentar os obstáculos com que, certamente, nos depararemos (especialmente no caso de crianças mais velhas e/ou com família viva). É preciso sabermos que temos a força suficiente para lutar por esse individuo, mesmo quando ele nos parta o coração, para o resto das nossas vidas. É preciso saber que a nossa relação é estável o suficiente para aguentar as provações que virão e até que o resto da família apoia esta decisão e está também pronta para receber este novo membro de braços abertos. Uma criança não é algo descartável que podemos devolver quando já não nos interesse ou estejamos fartos como se isso não tivesse consequências graves.


Por fim, deixo-vos um vídeo que me pareceu um bom "abre olhos" sobre este assunto. 
Se tiverem 13 minutos no vosso dia, dêem uma espreitadela. Vale a pena ver!




E vocês, o que acham sobre este tema?
Já alguma vez consideraram adoptar?
Concordam com as pessoas que dão a adopção como solução para a infertilidade?


Bons Planos e um bem haja a quem tenha tomado esta grande decisão!

6 comentários:

  1. Olá Fabianne!
    Penso como tu e sei que a adopção geralmente é apontada como uma solução "fácil" para quem passa por dificuldades na tentativa de engravidar. Acho que muita gente quer apenas responder qualquer coisa, apresentar uma solução, não pensam realmente no assunto. Eu e o meu marido sempre pensámos em ter 3 filhos, 2 concebidos por nós e um adoptado e filho do coração. Buscaremos pelos 3 e uns não substituem os outros, nem ocupam um lugar diferente entre si.
    beijinhos :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado pela resposta Lilith :)

      Que engraçado! Eu quando era mais novinha queria ter 5 filhos, 3 biológicos e 2 adoptados (se pudesse ser irmãos porque sei que muitas vezes são separados), hoje em dia já não penso em tantos, já me contentava, tal como tu, com 2 biológicos e um adoptado.
      Vamos ver como correm as coisas :)

      beijinho :*

      Eliminar
  2. Concordo inteiramente. A adoção não é um escape, uma segunda opção, deve ser um ato por si só considerado, não deve pretender suprir uma falta ou falha. Já tinha pensado nisso quando oiço, tal como tu, a opinião de muitos "iluminados". Quem sugere essa alternativa a um casal com dificuldades em engravidar tem uma enorme falta de sensibilidade.
    Boa sorte!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Su!
      Bem vinda :)
      Ai está um excelente resumo daquilo que eu penso ;)
      Beijinho e boa sorte na tua caminhada :*

      Eliminar
  3. Querida, ia responder ao teu comentário no meu blogue e assim tenho a certeza que irás ler.
    Não posso dizer que que já passei pelo que tu passaste mas, ao contrário de toda a gente que já engravidou facilmente, consigo sentir uma enorme empatia por ti. Sei o que é sentirmo-nos sozinhas porque não há por perto ninguém que compreenda o que estamos a sentir, não sem pareceremos egoístas. Queria que soubesses que podes contar comigo, vou seguir o teu caminho em busca de um sonho :) e dos sonhos nunca se desiste!
    abraço forte :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado querida! :)
      Já sabes que qualquer coisa que precises é só dizer ;)
      Tenho andado a tentar ler o teu blog mas vou muito lentinha :P tanto tempo e mesmo assim não estica, mas vou conseguir :D
      beijoca grande :*

      Eliminar