Nas nuvens: o dia da inseminação

Eram 9 menos 5 da manhã quando o V parou o carro à frente do Centro de Reprodução Humana do HUC e a tensão era palpável.

Quase que foi preciso arrancá-lo do carro para que me deixasse ser eu a estacionar, caso contrário chegaria atrasado. Quem conhece este hospital sabe bem a confusão que é aquele parque de estacionamento.

No final lá saiu, batendo com a porta. Homens e a mania de que eles sabem conduzir e estacionar melhor...

Vi pelo espelho retrovisor como entrava por aquelas portas que já conhecia tão bem e não pude deixar de ouvir o meu coração bater alto. 

Aquele momento poderia ser o inicio do final desta viagem para nós.

De volta à realidade lá fui eu tentar encontrar um lugarzinho a tempo de lhe dar algum apoio e um sorriso de coragem.

40 minutos passaram e eu, já farta das minhas tentativas infrutíferas para estacionar, resolvi passar outra vez em frente à porta do edifício.

Lá estava ele de testa franzida, olhando para todos os lados em busca de um sinal meu.

Quando entrou no carro ainda se notava a sua ansiedade. 

Ao parecer a recepcionista que o atendeu deveria ter melhores coisas que fazer do que esperar pelo final de uma frase com o motivo que o levava até lá e mal ouviu a palavra "recolha" achou que o que ele ia fazer era um espermograma e seguiu com o pedido da apresentação de um papel que não existia. Felizmente nesse momento o nome dele suou pelo altifalante. 

A tensão que já antes era alta, ainda aumentou mais com este episódio.

Sorte que a equipa de médicos e enfermeiros tem um pouco mais de tacto e conseguiram tranquilizá-lo.

Eu pela minha parte só pensava que este dia não podia continuar marcado por tanto nervosismo. 

Que mau karma!

Uma vez que ainda tínhamos uma hora e meia livre até à inseminação, decidimos ir tomar o pequeno-almoço fora do recinto do hospital  para relaxarmos um pouco.

Às 10h30 voltámos ao hospital e desta vez não tardámos nem 5 minutos a encontrar um sitio para deixar o carro e lá fomos nós, já com o optimismo renovado e dois sorrisos como de crianças que vêm uma carrinha de gelados, prontos para enfrentar o último passo desta aventura.

O meu nome finalmente suou, passava pouco do meio dia.

Com as pernas meio a tremer entrei na parte de internamento, onde fui mandada para uma pequena casa de banho onde me deveria preparar e esperar que me voltassem a chamar.

Às 12h15 estava deitada numa maca a olhar para a amostra de 20 milhões de espermatozóides com excelente morfologia e motilidade, que poderia conter o vencedor, enquanto o meu coração transbordava de esperança.

A inseminação em si foi bastante rápida e praticamente indolor.

Apenas senti uma ligeira dorzinha quando o tubo tocou a extremidade dos meus órgãos internos. Nesse momento uma médica do meu lado esquerdo apertou suavemente o meu braço dando-me força.

E depois vieram os 15 minutos de repouso.

Que bem que souberam!

Durante esse tempo aproveitei para fazer visualizações dos nadadores na sua corrida pela busca do óvulo, de um resistente a penetrá-lo e uma nova vida a começar.

Devo dizer que toda a equipa que me acompanhou nesse dia foi fantástica.

Todo este procedimento foi passado entre risos e um grande reforço de confiança.

Depois, vieram os votos de felicidades, a entrega da receita de progesterona e as recomendações para as próximas duas semanas, juntamente com o papel que indicava que dai a 18 dias deveria voltar para saber os resultados.

Mais alguns risos e anedotas e lá nos pusemos a caminho de volta a casa.

A viagem de volta já foi completamente diferente da de ida.

Muito pensamento positivo, sonhos, ilusões e planos para este bebé que um dia será e algo que me ficará marcado para o resto da vida: a mão de um futuro papá ansioso na minha barriga a dar indicações e motivação aos seus nadadores para chegarem à meta.

Boa sorte para todos os treinantes por aí fora e, como sempre...

Bons Planos!